En fin... nada que no tenga arreglo,
aunque sea cambiándose a Google +...
No
ano em que cheguei a Barcelona morreu o Vázquez Montalban.
Procurei
com prazer antecipado a sua personagem mais sedutora, Pepe Carvalho,
detective, ex-agente da CIA, ex-estalinista, gastrónomo-gourmant e
queimador de livros. Procurei-o na parte velha da Cidade: no Bar
Pinocho dentro do Mercado da Boqueria, na Casa Leopoldo da Calle Sant
Rafael e em todo o Bairro do Raval, mesmo apesar da praga dos
restaurantes «fashion» (verdadeira heresia para um amante da
cozinha como o detective Carvalho).
Pepe
Carvalho tem uma lareira continuamente acesa e queima livros num acto
de despudorado
cinismo,
alegando que a cultura não o ensina a viver, já que esta funciona
como um filtro entre a realidade e uma resposta a essa mesma
realidade.
Mas,
como creio que, ainda que não me ensinem a viver, os livros trazem
mais claridade à minha vida, procuro-os sempre que posso e, como
forma de agradecimento pelo imaginário catalão que me ofereceu o
Montalban, compro sempre um livro seu no dia de Sant Jordi (sim, o
mesmo, mesmíssimo S.Jorge que deu cabo do dragão).
Quando
chega Abril e a humidade já quase se pode apalpar (ou talvez seja a
transpiração condensada de centenas de turistas) espero com
ansiedade o dia 23 para folhear o meu livro novo (ou novo/usado)
sentada na esplanada do Papitu, no Plata ou numa mesa escura e fresca
dos Toreros.
Para
encontrar o detective é necessário seguir um verdadeiro labirinto
de restaurantes e bares de tapas...
A
Diada de Sant Jordi junta ao dia dos namorados da Catalunha (do qual
S. Jordi é padroeiro) a comemoração do dia do livro. O resultado
da combinação são ruas repletas de rosas de polpa aveludada e
postos de vendas dos livreiros, das editoras alternativas e também
das certeiras publicações da CNT.
Reza
a tradição que as mulheres oferecem um livro à sua meia-laranja e
os homens retribuem com uma rosa e uma espiga de trigo (símbolo da
fertilidade). Mas como nem só de rosas vive a mulher e a tradição
felizmente já vai vestindo calças, nos últimos anos são cada vez
mais os que escolhem oferecer os dois prazeres: paixão e sabedoria.
Assim,
seguindo fielmente a tradição de oferecer a mim mesma um grão de
sabedoria (a paixão deixo-a a cargo de outros), em Abril passado
comprei “Los pájaros de Bangkok” (Pássaros de Banguecoque –
Editorial Caminho) e folheei-o acompanhado de tostas de tomate e
anchovas regadas por um “Rioja” reserva, que o Sr. Montalban não
merece menos.
Mas
não foi suficiente. Voltei às Ramblas e fui buscar o “Asesinato
en el Comité Central” (Assassinato no Comité Central – Edições
Asa) a um stand de livros frente à Rua Arc del Teatre, mesmo ali ao
lado do Cemitério dos livros do Ruiz Zafón.
Como
o fim do mês é doloroso para (quase) todos, não pude repetir o
“Rioja” mas também não podia trair o Pepe Carvalho tragando-o
sem acompanhamento: brindei-o com um pires de peixinhos fritos e um
rosé da casa no Bar do Plata, porque, como diz o Pepe Carvalho: “El
sexo y la gastronomía son las cosas más sérias que hay.”
Eu
adiciono-lhe os livros.
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