A primeira flor de Bougainvillea
já não deve demorar...
A bicicleta pesa menos.
Os olhares da pessoas são escuros.
Na rua ouço alguém perguntar se o
Chipre é um país.
No Inem só há sombras, desde os
gestos nervosos dos dedos, até aos papeis dobrados na mão e as
dobras da alma, já para não falar dos olhos fundos como um poço.
Então encontrei-a a ela.
Rimo-nos e demos um abraço longo.
Depois tomámos café com a pressa dos
que têm sol numa terça a meia-manha.
Falamos da raiva, da impotência, da
necessidade de pôr bombas, de todos os que conhecemos que estão
desempregados, de não haver esperança e sentir-se encurralado...
Depois disse-me que está a trabalhar como voluntária numa casa de
acolhida a bebés mal-tratados e entregues aos serviços sociais.
Vi uma luz longa nos gestos dela e o
mundo tornou-se um pouco menos frio, muito menos vazio de sonhos.
Enquanto houver gente assim, as
lágrimas e o riso têm sentido.
A primeira flor de Bougainvillea
já não deve demorar...