Não deve ser por acaso, que este processador de texto me soe como um quarto de hotel, mas hoje são os anos do Miguel, um dia bom para voltar a sítios onde inspiro devagar, com surpresa. Mudei de trajectória, agora voo em esquina e repouso em arestas.
Not an ordinary love song
viernes, 29 de enero de 2016
martes, 19 de marzo de 2013
Bougainvillea
A primeira flor de Bougainvillea
já não deve demorar...
A bicicleta pesa menos.
Os olhares da pessoas são escuros.
Na rua ouço alguém perguntar se o
Chipre é um país.
No Inem só há sombras, desde os
gestos nervosos dos dedos, até aos papeis dobrados na mão e as
dobras da alma, já para não falar dos olhos fundos como um poço.
Então encontrei-a a ela.
- Afinal sempre nos encontramos no Inferno...
Rimo-nos e demos um abraço longo.
Depois tomámos café com a pressa dos
que têm sol numa terça a meia-manha.
Falamos da raiva, da impotência, da
necessidade de pôr bombas, de todos os que conhecemos que estão
desempregados, de não haver esperança e sentir-se encurralado...
Depois disse-me que está a trabalhar como voluntária numa casa de
acolhida a bebés mal-tratados e entregues aos serviços sociais.
Vi uma luz longa nos gestos dela e o
mundo tornou-se um pouco menos frio, muito menos vazio de sonhos.
Enquanto houver gente assim, as
lágrimas e o riso têm sentido.
A primeira flor de Bougainvillea
já não deve demorar...
martes, 19 de febrero de 2013
Mediterrâneo
Foto:Laura Olmos Bonet
Um lugar inocente, beleza, vida.
A luz do Mediterrâneo a brincar nas
escamas metálicas do peixe do Gehry.
Gente a correr, cães e bicicletas.
Uma mulher encostada à paragem do
autocarro. Os olhos fixos no mar azul, uma mão a apertar o fio do
pescoço, a outra a abraçar uma capa transparente recheada de folhas
e os lábios a mover-se em reza.
Lá dentro, vi um casal abraçado a
chorar e gente com o olhar perdido no mesmo mar, à espera de
respostas, ainda que líquidas.
Apertei a mão da minha filha e fiz-lhe
cócegas até ela deixar de olhar em volta.
A dermatologista era portuguesa. As
covinhas do sorriso dela lembraram-me os telhados da Mouraria cheios
de sol.
Depois mandei 3 mensagens a dizer o
mesmo:tudo bem. Mas quando o mar passou a deslizar pela janela do
autocarro, eu senti como uma parte do meu olhar mergulhou fundo e
devagarinho no Mediterrâneo.
Ficou lá, voltei sem ela, porque me
sinto mais leve.
miércoles, 12 de diciembre de 2012
asas
Pousou as asas com vagar enquanto soltava as palavras:
Estou farto da vossa raça.
Estou farto.
Quero ser apenas mortal e abandonar-vos à vossa sorte.
Às vezes não percebo se vocês são filhos da puta disfarçados de boas pessoas, ou boas pessoas a fingir que são filhos da puta.
Serão as duas coisas. - Fez uma careta de resignação.
Eu não respondia, não dizia nada, os meus olhos seguiam os dedos dele, a encher de folhas os pés da minha filha.
Não te preocupes a tua filha vai voar. Disse-me antes de partir.
E eu que nunca acreditei em seres angélicos esvoaçantes, pensei que se calhar era agora, que sem ninguém a cuidar de nós, éramos capazes de ser uma raça a valer, que cuidássemos uns dos outros e pudéssemos dar asas aos filhos.
viernes, 28 de septiembre de 2012
Pé ante pé escalo os degraus.
Desgastados mesmo no meio. Por lá já
passaram muitos.
Quase sempre há silêncio. Nunca se
ouve mais nada quando está o medo?
Subo, escalo, trepo.
Apesar da vertigem, apesar da
imaginação. Escapo ao que me persegue. Os fantasmas já não
entram. Abandonei-os. É a vez do medo, no degrau liso e gasto
que me deixará mais leve.
martes, 25 de septiembre de 2012
Hoje, 25 de Setembro, eu não estava em
Madrid, mas vi. Vi tudo e em directo.
Chorei. E não tenho vergonha. Chorei
de impotência e de raiva.
Pelas cargas policiais de gente que
ainda não deu conta de que também é povo.
Porque os filhos da puta que estavam
dentro do Congresso e que amanha continuam a ter trabalho, direito a
saúde em clínicas privadas, escola de elite para os filhos, e
todos os extras que muitos já nem nos lembramos quais são, negam
uma vida com dignidade a todo um povo.
Pela coragem de uma multidão imensa
que se atirou à polícia em defesa própria e que continuou a cantar
el pueblo unido jamas será vencido.
Chorei porque não estava em Madrid e
porque quero o meu futuro de volta.
lunes, 30 de julio de 2012
De zapatos
Que me indiquen el camino no significa
que sea el mio, ni que no me pare evaluándolo.
Decidir es el par de zapatos más
difícil de elegir.
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