
Chegou o verdadeiro calor.
Aquele que faz o nosso corpo esvair-se, em milhoes de minúsculas gotas de água salgada.
A pesar de todos nos queixarmos, sabemos que, esta, é uma das características da Cidade.
Faz parte do seu carácter, tornar-se insuportavel.
A transpiraçao de centenas de turistas é condensada, formando pequenas orlas, à volta dos sombreros mexicanos rosa-fluorescente (será que ninguêm lhes explica, que a Catalunha nao faz parte do México?), comprados nas Ramblas, nas lojas dos italianos, arrendadas aos paquistanenses.
É. A globalizaçao...
Alguns, comem hamburguers, sentados nas espladas.
Lagostas cor-de rosa, com sombreros cor-de-rosa a ingerir algo rosado...
Vertigens.
A mim, os 38º c, sempre me recordam o ano em que cheguei a Barcelona.
Tinha acabado de morrer o Vasquez Montalban, conhecido pela escrita e por ser “bom de boca”.
Nesse Verao, por vezes, acordava dentro da banheira, a ligar a água fria, que me permitia retomar o sono.
Também me acordavam os gritos, de quem era assaltado de madrugada e os cânticos desafinados, das manadas de turistas ingleses em busca de cerveja.
Bom, é que eu, vivia na Calle Avinyó(a mesma, que inspirou Picasso a pintar as putas), no coraçao do Bairro Gótico, até ao dia, em que troquei o romantismo por boas noites de sono.
Hoje, esta Cidade já é, também, minha.
Criei raízes, como as centenas de Jacarandas, plantados nas ruas inundadas de sol.
A roupa seca nas varandas(deve ser a única coisa que seca depressa em Barcelona) e a minha bicicleta voa, nas ruas mais frescas.
Delicioso.
Hoje nao penso, sinto.
Gosto de mim, por dentro e por fora.
Às pessoas de quem nao gosto, e vice-versa, desejo-lhes um bom dia (nao é cinismo, é paz de espírito).
Àquelas, de quem gosto muito, desejo um dia maravilhoso.
E porque é sexta-feira, e está demasiado calor para ser mauzinho:
Por favor, hoje, nao me atirem bombas.