
Vi-os caminhar como quem já percorreu muito, ao mesmo passo.
A distancia mantinha-se a mesma, entre os corpos.
Recordou-me a teoria dos grafólogos, sobre a continuidade na escrita, a distancia entre palavras.
À procura da constância.
Chovia. Gotas grossas de Maio frio.
Ele empurrava o carrinho do bébé com o olhar fixo num ponto longínquo e invisível.
Ela fazia gestos sem pressa, de quem se deteve a contemplar o ritmo do mundo.
Despediu-se da criança com um abraço de olhos fechados, para que a memória nao lhe falhasse quando a saudade a assaltasse.
À entrada do metro parou uns segundos a vê-los afastarem-se.
Ele disse adeus sem deixar de fixar o ponto.
Pelos olhos dela passou uma despedida silenciosa, de alguém que se conheceu e tivesse morrido, porque se deixou de poder reconhecer.
Chovia e a entrada do metro soltava uma aragem morna.