jueves, 16 de febrero de 2012

sobrevoar


Atravessei o Atlântico e deixei mergulhar o olhar nas águas escuras que me aterram.
Sería aquí que os filhos da puta da ditadura argentina  faziam "los vuelos de la muerte" empurrando para o vazio os corpos vivos de gente como eu?
Depois, não quis chorar, já havia demasiada água salgada abaixo de mim.
Deixei-me deslizar nos Açores e parei a beber o Gin do Peter e a ouvir histórias de marinheiros e veleiros.
Sonhei a ilha “vizinha”, que não penso pisar até que morra o "Padrinho" que fez dela um feudo. Sonhei Herberto Helder e bebi a poesia dele en golos lentos.

o texto assim coagulado, alusivas braçadas
de luz no ar fotografadas respirando,
a escrita, pavorosa delicadeza a progredir,
enxuta, imóvel gravidade
(HELDER, 2004, p. 261)

Amanha vou sobrevoar a Europa, essa bruxa velha cheia de encantos e mentiras.
Agora, volto a ela, volto a casa, ao meu aviao de madeira do tamanho de um livro-de-bolso, onde às vezes embarco para cruzar todo esse mundo que nunca poderei conhecer totalmente.

No hay comentarios:

Publicar un comentario