Atravessei o Atlântico e deixei
mergulhar o olhar nas águas escuras que me aterram.
Sería aquí que os filhos da puta da
ditadura argentina faziam "los vuelos de la muerte" empurrando para o vazio os corpos vivos
de gente como eu?
Depois, não quis chorar, já havia
demasiada água salgada abaixo de mim.
Deixei-me deslizar nos Açores e parei
a beber o Gin do Peter e a ouvir histórias de marinheiros e
veleiros.
Sonhei a ilha “vizinha”, que não
penso pisar até que morra o "Padrinho" que fez dela um
feudo. Sonhei Herberto Helder e bebi a poesia dele en golos lentos.
o texto assim coagulado,
alusivas braçadas
de luz no ar fotografadas
respirando,
a escrita, pavorosa
delicadeza a progredir,
enxuta, imóvel gravidade
(HELDER, 2004, p. 261)
Amanha vou sobrevoar a Europa, essa bruxa velha cheia de encantos e mentiras.
Agora, volto a ela, volto
a casa, ao meu aviao de madeira do tamanho de um livro-de-bolso,
onde às vezes embarco para cruzar todo esse mundo que nunca poderei
conhecer totalmente.
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