jueves, 9 de febrero de 2012

os que nao falam dela



Nao vou falar sobre a crise, falo sobre os que nao falam dela e cada vez conheço mais.
Nao sao personagens do Dickens, vivem comigo, ao meu lado, no andar de cima, no edifício em frente.
Sao os que vivem a contar os dias que faltam para expirar o subsídio de desemprego, as ajudas da segurança social, os prazos limite de pagamento da água, luz, gás, internet(nao, já nao é um luxo).
Aqueles que nao conseguem chegar ao sono e ficam a ver os filhos pequenos a dormir numa cama boa (há uma espécie de paz nisto, que consegue criar um vazio mental ou contemplaçao em estado puro).
Os que se inscrevem em ofertas de trabalho com condiçoes inimagináveis, inaceitáveis se existisse justiça e um Governo real.
Que estao dispostos e com vontade de limpar casas, carregar móveis, trabalhar 12h ao dia e nao conseguem nada.
Os que sobrevivem a trabalhar por “€s negros” que só enchem o frigorífico durante uma semana.
As maes solteiras e separadas que perdem oportunidades de trabalho por nao poder aceitar horários incompatíveis com ser mae.
Os que têm que pedir ao proprietário da casa alugada que tenha paciência, que pagará quando lhe paguem a ele.

Os que estao no Inferno, nao falam dele, tentam sobreviver nele.
Misturam riso com copos, conversas com prantos e projectos desesperados, mas nao falam dele.
Só me refiro aos que nao estao completamente sós, que essa é outra história que já nao se vive nem no Inferno, deve ter outro nome qualquer.

E agora com licença, vou ser piegas (sim, isto é uma mençao ao cretino ignorante do Passos Coelho) e ouvir uma música que me faça chorar, porque tem de haver alguma maneira de arrancar isto de dentro e pousar numa cadeira (só por momentos) a força e a raiva que me permitem sobreviver. 
Mas prometo que nao desisto, nao desisto, ou pelo menos ainda nao.
Aquí, quase ao lado do Inferno.


No hay comentarios:

Publicar un comentario