martes, 12 de julio de 2011

cinco minutos

15:05h

Ele girou rapidamente sobre si mesmo e antes de abrir os olhos fez o jogo, infantil e doce, em que muitos já embarcamos centenas de vezes: se ela olhar para mim é porque me curo.

Nao o viu.

O olhar firme, os dedos longos e morenos e as sandálias que denunciavam as férias. Sonhou a desconhecida e perdeu um pouco mais de esperança em ganhar a guerra declarada pela maldita doença. Ao sentar-se na esplanada, onde as cadeiras estavam ainda molhadas pela furiosa chuva de Verao, sentiu-se como uma delas; a escorrer água, imóvel, inerte. Deve ser asim, a seguir ao desespero vem esta aceitaçao, tudo se esgota.

Prendeu a atençao no casal da mesa à sua frente, eles pararam por momentos à passagem da mulher de férias e a seguir retomaram a conversa, enérgica pelo gesticular das maos, cúmplice pelas cabeças juntas. Ela expunha-lhe a sua teoria: a próxima revoluçao seria feita em nome do tempo, da sua recuperaçao e uso. Os dois traçavam um plano para fugir do trabalha-paga-trabalha-recupera-endivída-te-trabalha-paga-estica-paga-paga. Possuiam um poderoso motor que provavelmente os transportaria com sucesso a qualquer lugar.

Na única mesa seca da esplanada, sob o toldo amarelo, sentava-se um homem de meia idade que tinha deixado de fumar porque tinha medo de morrer. Pensava no vizinho do quarto andar, no sorriso, no contorno aveludado do seu queixo. As maos suaves, de unhas tratadas, acariciaram a asa da chávena,onde boiavam duas cascas de limao em forma de meia-lua. Foi interrompido pela mulher que lhe pedia para retirar uma cadeira seca.

A areia que lhe salpicava os pés trazia o som aconchegante do mar calmo. Quando ela percorreu a esplanada com o olhar, pousou-o um momento no casal com tempo e teve a sensaçao que deles se soltava um ruído surdo, semelhante ao da maré quando sobe.

Depois, viu um homem ainda jovem, rígido, ausente. Leve e forte como um bloco de granito.

Ele ergueu o olhar e um papagaio de papel descreveu um arco no céu.

15:10h

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