miércoles, 24 de junio de 2009

Almoçamos?


Encontro as sandálias, chinelos de dedo e ténis de algodao, que alguns pés abandonaram perto da praia.
Depois da festa.
Como se os seus donos tivessem, misteriosamente, abandonado o planeta.
Com desapego.
À procura de texturas e emoçoes.

Depois, sonhei com ela.
Tinha olhos do tamanho de gemas de ovo.
Parecia tao leve como um fio de cabelo ondulado.
Tinha deixado de comer durante muito tempo.
O corpo dela rejeitava alimento, como o sentir, rejeitava a dor.
Bebia água, porque dizia que percorria o seu corpo, sem lhe exigir nada em troca.
Tinha deixado de usar óculos escuros. Já nao tinha medo que a fragilidade lhe inundasse o olhar.
Agora era pedra porosa, poderosa.
Deixava penetrar a humidade, devolvendo-a ao exterior, muito lentamente.
(Sabias que , a humidade, no interior das rochas, escava longas e finas fracturas verticais, que, ao longo dos anos, acaba por quebra-la em pequenas partes?)

Ela, como sempre, calou-se sem avisar .
Brincava com os anéis, encaixando-os nos dedos dos pés.

Disse-lhe que já nao tinha saudades dela.
Agora, preferia cozinhar, ao som de Tom Waits, acompanhada de Rioja e finas fatias de presunto bem curado.
Polpa de courgete, polvilhada de canela.
Couscous de açafrao, afogado em molho de hortela.
Azeitonas salteadas em alho e azeite.
Arroz de bacalhau, agasalhado num mar de coentros.

Nao tenho saudades dela.
Prefiro saborear, e, passear com óculos escuros, de vez em quando.

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